sexta-feira, 12 de janeiro de 2007

200 anos de Romances Históricos


As obras de ficção que situam a acção no tempo das invasões napoleónicas em Portugal, ou da chamada Guerra Peninsular, têm qualidade literária diversa e correspondem a vagas sucessivas de literatura romântica .
Vêm elas desde Mário (1858) de Silva Gaio, “Episódios das lutas civis portuguesas de 1820 a 1834”, contando depois com “A Menina do Val-de-Mil” (1860, in Arquivo Pitoresco), Cenas da Guerra Peninsular, de Mendes Leal, com Lágrimas e Tesouros (1863) de Rebelo da Silva (que trata da estada de Beckford em Lisboa), com O Sargento-Mor de Vilar (1863), e com O Segredo do Abade (1864), ambas de Arnaldo Gama (que tratam da segunda invasão francesa, enfocando o desastre da Ponte das Barcas, ou das lutas no Minho na primeira invasão), com A Casa dos Fantasmas (1865) de Rebelo da Silva (que se ocupa também da primeira invasão) e mesmo com Amor de Perdição (1865), de Camilo Castelo Branco (que utiliza o período em questão), com “A Noiva do Cadafalso” (1867, in Panorama) e As Duas Flores de Sangue (já de 1875, e inspirada em A San Felice de A. Dumas, que o autor traduziu), ambas de M. Pinheiro Chagas, tratando de um episódio da guerra do Roussillon, com presença de Gomes Freire, ou da guerra dos Franceses em Nápoles, com intervenção do marquês de Nisa, com Pintura de um Outeiro Nocturno e um Sarau Musical (1867-1868) do marquês de Resende, referida ao “fim do século passado”.
Mais tarde, apareceu A Guerrilha de Frei Simão (1895) e A Joana d’Arc dos Miguelistas (1898), ambas de Alberto Pimentel, tratando dos anos 20 até 1833, ou da figura da marquesa de Chaves - como veio a fazer (1922) Eduardo de Noronha em Marquesa de Chaves, mais romanceadamente. Já no século XX e mais popularmente, Campos Junior publicou provavelmente o último romance sobre as invasões francesas: A Filha do Polaco (1903). No teatro, foi Mendes Leal quem inaugurou o período temático com Os Primeiros Amores de Bocage (1865), embora referido aos anos 1783-1786. Em 1899, foi Marcelino Mesquita quem, com grande êxito cénico, realizou, em Peraltas e Sécias, uma boa comédia de costumes da corte de D. Maria. Em 1919, Júlio Dantas publicou e fez representar (com Maria Matos na protagonista) a peça em um acto Carlota Joaquina que se passa em Queluz, ao regresso de D. Miguel, em 1828. Só já no nosso tempo Felizmente Há Luar (1963) de Luís Sttau Monteiro, tratou da conspiração de Gomes Freire e D. João VI (1979), de Helder Costa (com Mário Viegas no protagonista), caricaturou o monarca. Também o cinema explorou este período em Bocage (1936), de Leitão de Barros ( com excelente interpretação de João Vilaret no regente D. João) - e, no Brasil, Carla Camurati realizou em Carlota Joaquina, Princesa do Brasil (1995) uma crítica sarcástica da rainha e da sua corte, com cenas passadas em Portugal. Recolhas poéticas cobrindo também este período com obras populares e satíricas foram produzidas por Alberto Pimentel em A Musa das Revoluções (1885) e por A. Tomás Pires em Cancioneiro Popular Político (1891).
Uma das mais recentes é Razões de Coração, de Álvaro Guerra 1991, (Dom Quixote) . Tendo como base um diário de um monge do convento de Mafra, é um romance sobre “paixões em Mafra ocupada pelos franceses no ano de 1808” que divide a população naqueles que acreditam que os franceses serão expulsos, ou que ficarão para governar, ou que nem uma coisa nem outra, desde que não implique com as suas vidas.

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